Teatro de Arte de Moscou

Teatro de Arte de Moscou

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O Produ-Ator

ATO 1 - O Produator
Um dos cursos mais disputados no último vestibular da UFF foi o de Produção Cultural. Ué, esse curso já existe ? Já sim, e não só na UFF, mas na UERJ também ( como curso de extensão), além do SEBRAE que possui dois cursos neste sentido.
Podemos chegar a algumas conclusões. Mesmo em um país, que consideramos inapto ao se relacionar com a cultura, vemos alguns avanços na nossa área, até pela percepção de algumas pessoas sobre a necessária profissionalização da Arte.
Penso que o fazer artístico a cada momento caminha para uma inevitável profissionalização em todos os sentidos.
O artista luta cada vez mais para conseguir sobreviver da sua profissão, e quer que a respeitemos tal como outra qualquer. Aquele negócio de "amor à arte" vai ficando mais distante. O glamour de se fazer teatro, simplesmente por fazer , perde o sentido. Queremos é fazer com qualidade e profissionalismo peças e mais peças, filmes e mais filmes,e recebendo, se possível, muito bem por isso. É engraçado , mas as pessoas que assumem que gostam e querem ganhar dinheiro com a arte são tachados por alguns como mercenários, vendidos e comerciantes.No Brasil é quase um crime ganhar dinheiro trabalhando na profissão que ame. Parte-se do princípio que trabalhar é um saco, porque o trabalho é chato. Assim se alguém trabalha com algo que goste, não pode receber por isso ! É muita sacanagem com os que trabalham com algo que não gostam ! O que podemos fazer, se gostamos de teatro e ganhamos dinheiro com ele???. Meu amigo de infância, Tico, e hoje programador internáutico da Gazeta Mercantil, dizia sempre em tom de deboche :" se trabalho fosse bom, não te pagavam para isso". Ele mesmo não concorda com isso, pois ama o que faz, mas resume nesta frase um pensamento que muitas vezes encontramos encravados na alma nacional.
Podemos perceber que os avanços ( ou retrocessos, dependendo do ponto de vista) do ser humano em um mundo globalizado ( que para muitos é um novo nome para Imperialismo) também chegam no teatro. Como não podemos mais ter em um escritório alguém que não entenda de informática, também não podemos mais ter atores que não entendam de produção.Com cada vez menos oportunidades, mais atores disputando o mercado, mas também com ume enorme espaço aberto para a criatividade, quem não se produzir fica alijado do mercado. Quem ficar em casa esperando telefonema não trabalha, portanto não temos saída, temos que nos auto-produzir.É por isso que os produtores são tão bem visto no meio. Ainda temos pouco profissionais que trabalham com isso em relação ao número de artistas existentes. E muitos dos que existem, estão mais preocupados em produzir seus sonhos do que o dos outros. NUNCA ninguém vai gostar tanto de um projeto, quanto o seu criador. Pode-se gastar o salário inteiro numa mesa de bar pagando chopp para o futro produtor de suas peças, que ele nunca sairá com tanta gana atrás de vendas e patrocínio quanto se vc o fisesse, se tivesse saco para isso.
Dizer : "Eu não sou produtor, sou ator" hoje em dia seria o mesmo que dixer que vc então não é um ator da sua época, é ainda um ator-romântico.
No Sebrae e na Uerj tenho quase toda a certeza de que as pessoas que estão fazendo os cursos são artístas que querem aprender a viabilizar suas obras, na UFF eu ainda não sei. Por que se existirem tantas pessoas quanto estamos necessitando, que acordem um dia, e falem : "Pai, vou fazer a faculdade de produção cultural porque o meu sonho é produzir o projeto dos outros", a nosssa situação tende a melhorar rapidamente, é só deixar esta molecada sair com o canudo. Mas cuidado para não esperarem demais, porque se estes sairem com o canudo para desenvolverem os projetos deles, vc estará atrás, cada vez mais atrás de um pedaço da fatia do mercado cultural brasileiro, por não ter se atualizado por conta própria, deixado o barco rolar. Vamos arriscar ?
Quem me lê, dizendo todas essas coisas deve imaginar que sou um "produator" convicto, que estou sempre trabalhando porque estou sempre produzindo, mas não. Tenho fases em que boto a mão na massa e produzo também, mas logo depois isso me dá um desgate na alma. Mas tenho sentido que cada vez mais que esses suspiros artísticos só atrasam o processo, e tenho que me convencer, mesmo que a duras penas, que terei que ser eternamente um PRODUATOR brasileiro, já que abandonar o barco é impossível, como foi dito no ultimo ATO 1 da FOLHA DO RANGEL.
A formação de atores no Brasil ( nas faculdades e cursos técnicos) tem que começar a encarar o mercado de trabalho de frente. As aulas de produção cultural, de como elaborar projetos e de como vender espetáculos, tem que fazer parte do currículo obrigatório. Os alunos tem que perceber que isso faz parte da necessidade de sobrevivência da profissão. Talvez nós, atores e diretores formados que não tivemos este tipo de aula em nossos cursos, talvez façamos cara feia para eles, por não o considerarmos um produto dignamente teatral. Mas não adianta, só termos o embasamento artístico, ignorando a viabilidade econômica das futuras peças, só colocará no mercado pessoas angustiadas, despreparadas e inertes.Seria o mesmo que ensinar uma pessoa a tocar violão e lhe negar o instrumento.
Por isso, se vc não aprendeu a produzir seus espetáculos nem nos cursos e nem na porrada do dia-a-dia, é hora de se atualizar ! Se matricule num curso desses, aprenda, se aprimore, e tenha mais oportunidades de viver de teatro no Brasil.
Gostaria de ouvir as opiniões de vcs sobre isso tudo,
beijão.
(texto escrito em maio de 2000)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Há dez anos...

Caros,
Há dez anos ( o que vc estava fazendo a exatos dez anos???) eu comecei a escrever um jornal na internet, o Folha do Rangel, onde havíam reflexões sobre teatro e a arte da interpretação. Em cada número colocava uma discussão. aqui está o primeiro texto escrito àquela época. Alguma coisa mudou de lá para cá? A discussão que estava exposta continua a mesma? Pensem...
lá vai o texto, estreado em 1 de maio de 2000, dia do trabalho...

ATO 1 - Resistindo
Resistindo. É esse verbo que venho utilizando quando perguntado por parentes, amigos e companheiros de trabalho : " O que anda fazendo no teatro ?".
Poderia desenvolver um posicionamento negativista enumerando somente as mazelas e dificuldades de se fazer e viver de teatro no Brasil, mas vou optar primeiramente por um outro caminho e esperar a opinião de vocês.
Como muitos colegas, não me sinto mais em condições reais de afirmar que vou "abandonar o barco", em algum momento de indignação devido às já citadas mazelas profissionais. Imagino que isso seja mais fácil quando ainda se tem pouco tempo no teatro. Cada vez mais penso que temos que procurar nos adaptar, sem deixar de lutar por melhorias, dentro desses problemas para podermos viver da melhor forma possível. Em relação ao teatro, muitos colegas não aguentaram e desistiram. Muitos estão quase desistindo. Muitos "pensam" que desistiram ou que aguentarão viver com esta desistência. E a maioria que conheço, resiste.Reclamando, xingando, mas correndo atrás de contatos, oportunidades e de trabalho dentro do meio.
São os resistentes.
E é a vocês que eu mando um grande beijo neste dia 1o, dia do trabalho, dia de reflexão sobre o "nosso" trabalho e digo, com a maior certeza e firmeza do Mundo : Resistam !!!.
Dois pensamentos simples podem ajudar a resumir esta questão. Uma, do querido e talentoso colega da faculdade, que de tanto resistir é hoje um dos roteiristas da Globo, Celso Taddei : " Desistir é muito fácil, principalmente quando se trata de teatro". E é mesmo, Celso, as tentações para isto são enormes, devido às grandes dificuldades. E a outro do Zoroastro, também colega e amigo resistente não só como ator, mas também como músico-compositor e cartunista, falando sobre a falta de oportunidades de trabalho : " O trabalho de quem está sem trabalho, é acordar todo dia e procurar trabalho".
Assim sendo, os atores e diretores que sempre sonharam em viver exclusivamente do que mais gostam de fazer, vão procurando empregos satélites durante o dia e investindo em seus objetivos durante a noite, quando ensaiam seus projetos e espetáculos queridos.
Seja dando aula, fazendo projeto-escola e teatro-empresa, oferecendo cursos, gravando comerciais, ou mesmo se fantasiando de vaca em lançamento de margarina, resistam !
Ou mesmo aqueles que trabalham em empregos convencionais durante o dia, mas usam o seu tempo à noite não para deitar no sofá, ligar a tv e esperar mais um dia de trabalho, mas sim para exercitar seu trabalho e desenvolvimento artístico, resistam.
Vamos falar mais sobre isso nos próximos números. No Brasil é difícil viver exclusivamente do trabalho artístico ? É sim. Mas, existem caminhos ? Penso que sim.
Um consolo tive em julho passado quando estava em Buenos Aires e li uma reportagem no " Clarín", com uma famosa atriz que acabara de esteiar um espetáculo. O repórter perguntou : " Qual é o personagem dos seus sonhos,que você mais gostaria de representar ?", e ela : "O sonho de um dia poder representar qualquer personagem, por poder viver exclusivamente da minha representação".
Resistam, seja de que forma for. Grande beijo e parabéns pelo seu dia, amigo resistente : dia do trabalho

Rodrigo Rangel

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Inaugurando...

Salve, gente!
Parece incrível, mas só em 2010 decidi fazer meu blog. Não é difícil entender... na época que o cubo mágico era a grande sensação das brincadeiras, eu , devido aos ensinamentos familiares "sempre esperava o preço do brinquedo da moda abaixar"...daí, quando eu ganhava o tal mimo, já estava ultrapassado.. foi assim com o boneco Falcon, com o jogo eletrônico da memória Genius, com o Atari...
Assim, entro neste novo mundo (para mim), e já caduco...(pra vcs), onde, porém poderei conseguir manter uma comunicação mais próxima com todos. São muitos colegas de trabalho, profissão, estrada, alunos, ex-alunos, futuros alunos, e uma necessidade sempre presente em me comunicar. Andei meio sumido, focado na finalização de meu mestrado, sem atuar, sem dirigir... mas com muita vontade de me expressar, e agora ainda mais, já que descobri este mimo... podem esperar..Rangel está voltando.
Beijos.
Rodrigo Rangel

Blog do Rangel

Discussões artísticas contemporâneas...